António Feliciano de Castilho
Voz
Guilherme Filipe
Localização
Avenida da Liberdade (talhões ajardinados do lado poente, junto ao cruzamento com a Rua Alexandre Herculano)
Tipologia
Estatuária monumental
Inauguração
27 de maio de 1952 (presidência de Álvaro Salvação Barreto)
Encomenda
Câmara Municipal de Lisboa
Caraterização e descrição
O monumento representa a figura do homenageado, com grande fidelidade aos aspetos fisionómicos, nomeadamente o rosto com farta cabeleira, barba e bigode.
Os olhos fechados remetem-se à caraterística da cegueira.
O escritor é representado de pé e em posição frontal, trajando elegantemente com vestes da época (calça, colete, papillon e casaco).
A postura das mãos, acentuam a simetria da obra.
A execução é rigorosa, sobretudo na pormenorização das vestes.
A obra figurativa, de grande escala, é executada em pedra e implantada sobre plinto circular, também ele em pedra.
Em 16 de junho de 1948 foi celebrado, entre a Câmara Municipal de Lisboa e o escultor Leopoldo de Almeida, o contrato para execução dos estudos para a estátua de António Feliciano de Castilho.
Depois de aprovada na sua execução em gesso, pela Câmara Municipal, a obra foi concretizada em mármore, com base no contrato celebrado em 14 de março de 1951, relativo à empreitada de passagem à pedra da estátua de António Feliciano de Castilho, por Pardal Monteiro, Limitada.
Tema / Homenageado
António Feliciano de Castilho (n. Lisboa 28 de janeiro de 1800 – f. Lisboa 18 de junho de 1875) – escritor e pedagogo
O monumento homenageia o escritor que abraçou a estética do Classicismo e se revelou como um grande pedagogo que promoveu a leitura e o ensino dos cidadãos cegos.
Apesar de ter vivido em vários locais, incluindo Castanheira do Vouga, Coimbra, Açores e Madeira, Castilho é um lisboeta por nascimento (nasceu na Rua de S. Pedro de Alcântara) e vivência. Filho de um médico da Casa Real, cedo começou a instrução no domínio das letras. Em criança, foi vítima de um ataque de sarampo que lhe provocou cegueira e lhe marcou a própria vida. Apesar das enormes condicionantes, mas sempre com grande acompanhamento familiar, desenvolveu a sua formação em Humanidades na Universidade de Coimbra, onde já revelou a vocação poética. Os seus primeiros poemas, de teor clássico, foram dedicados à Rainha D. Maria I (Epicédio na morte da augustíssima senhora D. Maria I, rainha fidelíssima) e ao Rei D. João VI (À faustíssima acclamação de S. M. o S. D. João VI ao throno). Ao longo da vida, manteve-se fiel à herança do Classicismo, embora, progressivamente, tenha demonstrado interesse pelo Romantismo, associado aos escritores franceses, nomeadamente Alexandre Dumas, que chegou a conhecer numa visita a Paris. Ciúmes do Bardo, tal como Amor e Melancolia, são obras emblemáticas e reconhecidas pelos seus pares. Em 1848, fundou a Sociedade dos Amigos das Letras. Colaborou em jornais e revistas (O Panorama, Jornal da Sociedade dos Amigos das Letras, Arquivo Pitoresco, na Revista Contemporânea de Portugal e Brasil, Gazeta Literária do Porto, Revista de arte e de crítica, Revista Universal Lisbonense). Consciente da importância da educação para todos os cidadãos, independentemente das suas condições físicas e sociais, dedicou-se à instrução e inventou um método para ensino da leitura, que o caraterizou como pioneiro e grande pedagogo. Designou este processo e metodologia como Mehodo Portuguez e foi nos Açores, onde viveu entre 1847 e 1850 (ponta Delgada) que o aplicou com sucesso. Apesar de ter sido nomeado membro do Conselho de Instrução Primária e de ter conseguido publicar esta obra de referência, Castilho nunca conseguiu que o seu método fosse oficialmente aplicado nas escolas públicas. A luta por esta causa chegou a levá-lo ao Brasil, onde apresentou a proposta ao Imperador D. Pedro II.
Foi membro da Academia das Ciências. Em reconhecimento dos seus méritos, recebeu o título de Visconde de Castilho, em 1870. Encontra-se sepultado no Cemitério dos Prazeres.
Principais obras de António Feliciano de Castilho (publicadas em vida do autor):
Cartas de Echo a Narciso, 1821 A Primavera, 1822 Amor e Melancholia ou a novíssima Heloisa,1828 A Noite do Castello e Os Ciúmes do Bardo, 1836 Quadros Históricos de Portugal, 1838 As Methamorphose de Publio Ovídeo Nasão. Poema em quinze livros, vertido em portuguez, 1841 Excavações poéticas, 1844 Presbyterio da Montanha, 1844 Mil e um mysterios: romance dos romances, 1845 Cronica certa e muito verdadeira da Maria da Fonte, 1845 Quadros Históricos de Portugal, 1847 | Felicidade pela Agricultura, 1849 Leitura Repentina: methodo para em poucas lições se ensinar a ler, 1850 Tratado de mnemónica ou methodo facílimo para decorar muito em pouco tempo, 1851 Methodo portuguez Castilho para o ensino do ler e escrever, 1853 Tosquia de um camelo: carta a todos os mestres das aldeias e das cidades, 1853 Diretório para os senhores professores das escolas primárias pelo methodo Portuguez, 1854 Ajuste de contas com os adversários do Methodo Portuguez, 1854 Felicidade pela Instrução, 1854 O Outono, 1863 Ciúmes do Bardo, 1868 |
Autor
Leopoldo de Almeida (n. Lisboa 18 de outubro de 1898 – f. Lisboa 28 de abril de 1975) – escultor e professor
Leopoldo Neves de Almeida fez os primeiros estudos na Escola Oficina n. º1, uma instituição inovadora, criada em 1905 no bairro da Graça em Lisboa e muito de dicada ao ensino das artes.
Com apenas 15 anos, entrou para a Escola de Belas Artes de Lisboa, onde foi aluno de Simões de Almeida
- sobrinho e de Columbano Bordalo Pinheiro e se revelou um aluno brilhante. Em 1920, terminou o curso de Escultura com a classificação máxima. Desde muito novo, apresentou-se nas Exposições da Sociedade de Belas Artes.
Na primeira fase, as suas obras seguem o modelo da escultura clássica, como é o caso da escultura O Vencido da Vida (1922).
Aceitou novos desafios e concebeu o baixo relevo do friso da boca do Teatro da Trindade, assim como as decorações escultóricas do célebre Bristol Clube.
Em 1926, foi um dos vencedores do concurso para Pensionista do Estado no Estrangeiro. Em Paris, onde residiu durante alguns meses, visitou monumentos e museus.
Mas foi em Roma, onde se instalou no Instituto de Santo António dos Portugueses e onde expôs, que a obra do escultor teve novo impulso. Regressado a Portugal, participou nos grandes concursos públicos para monumentos urbanos.
Foi a colaboração no atelier do escultor Francisco Santos, em particular no Monumento ao Marquês de Pombal, que revelou as suas qualidades na composição de figuras e grandes grupos escultóricos.
A realização dos baixos-relevos executados em 1934 para a fachada do cinema Éden, projetada pelo arquiteto Cassiano Branco, consagraram-no como escultor moderno, já com atelier próprio.
Leopoldo Almeida tem uma obra diversificada e inserida em diversos contextos.
É relevante a estatuária em espaço urbano resultante de encomenda pública.
Grande parte da sua obra concentra-se em Lisboa, onde para além das estatuária na Avenida da Liberdade (Oliveira Martins e António Feliciano de Castilho), se destaca o Monumento a António José de Almeida, as esculturas do Padrão dos Descobrimentos, estátua equestre de D. João I na Praça da Figueira, Monumento a Calouste Gulbenkian nos Jardins da Fundação Gulbenkian, estátuas de D. Afonso Henriques e de D. João I (concebidas para os Paços do Concelho, mas atualmente inseridas no Jardim do Campo Grande) e de Óscar Carmona (atualmente no Museu da Cidade).
Relevante é também a composição alegórica alusiva à Justiça, no exterior do Palácio da Justiça.
Versátil na composição e na modelação, concebeu obras mais intimistas como alguma escultura religiosa inserida na Igreja de Fátima.
O Museu de Lisboa possui na sua coleção um notável conjunto de obras, gessos e modelos em gesso, da autoria do escultor.
Também está representado noutras cidades e vilas, nomeadamente com monumentos evocativos de vultos da história política (D. Nuno Álvares Pereira na Batalha, D. Sancho I em Silves, Duarte Pacheco em Loulé, Infante D. Henrique em Lagos) e de figuras da vida cultural (Ramalho Ortigão no Jardim da Cordoaria no Porto, Eça de Queiroz na Póvoa do Varzim, Ramalho Ortigão nas Caldas da Rainha e Marcelino Mesquita no Cartaxo).
Embora predominem obras de estatuária relacionadas com figuras históricas, também concebeu alegorias, como a que se refere à Justiça nos Palácios da Justiça de Lisboa e do Porto.
Dedicou-se simultaneamente ao ensino como Professor da Escola de Belas Artes de Lisboa, formando muitos jovens escultores.
Em reconhecimento da sua ação, foram-lhe atribuídas distinções públicas relevantes, como a Ordem Militar de Santiago da Espada e a Ordem da Instrução Públicas. Nas Caldas da Rainha, localiza-se o Museu Leopoldo de Almeida, dedicado à vida e obra do escultor.
Observações / informações complementares
António Feliciano Castilho foi o pai do célebre jornalista e olisipógrafo de Augusto de Castilho.
A Câmara Municipal de Lisboa é proprietária de alguma iconografia artística relativa a António Feliciano de Castilho, nomeadamente:
Gravuras alusivas ao escritor; um quadro a óleo da autoria do pintor José Rodrigues (1828-1887), que representa o escritor em avançada idade.;
Uma fotografia de seu filho, Júlio de Castilho segurando um retrato de seu pai, enquanto jovem;
Fotografia de uma estatueta do escritor;
Fotografias da instalação da estátua, bem como da cerimónia de inauguração.