Monumento aos Mortos da Grande Guerra

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Voz

Filipa Veiga

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Localização

Avenida da Liberdade – faixa poente (em frente ao cruzamento com a Rua do Salitre)

Tipologia

Conjunto monumental formado por grupos escultóricos, elementos simbólicos e inscrição.

Inauguração

Monumento foi inaugurado a 22 de novembro de 1931, pelo Presidente da República (General Óscar Carmona) e pelo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa (General Vicente de Freitas). A primeira pedra fora colocada a 9 de abril de 1923 pelo Presidente da República (Dr. António José de Almeida).

Encomenda

projeto com base numa Comissão Nacional, criada em 1923, cuja ideia foi lançada em 1920, por ocasião do aniversário da trágica Batalha de La Lys, onde o Corpo Expedicionário Português que recentemente se juntara aos aliados, foi derrotado pelo exército alemão.


A Comissão, nomeada a 9 de abril de 1920 pelo Ministério da Guerra e pelo Ministério da Marinha e Colónias, foi presidida por Sebastião de Magalhães Lima, advogado, jornalista (fundador do Jornal “O Século”) e escritor, político republicano, deputado à Assembleia Constituinte de 1911 que redigiu a constituição republicana, ministro da Instrução Pública em 1915 e Grão-Mestre da Maçonaria. A Comissão Tinha instalações próprias no edifício dos Paços do concelho de Lisboa e competia-lhe recolher donativos por subscrição pública, decidir com a Câmara Municipal o local para colocação do monumento, escolher os autores do monumento, fazer a encomenda e acompanhar a obra. Depois de Magalhães Lima em 1928, a Comissão foi presidida por militares que fizeram parte do corpo Expedicionário Português, os generais Roberto Batista e Abel Hipólito.

Caraterização e descrição

Obra executada em pedra, com pequeno apontamento em bronze, tem uma expressão monumental, tanto no que se refere a escala como à composição.

O monumento está implantado sobre uma base de pedra num espaço ajardinado.

Sobre a base poligonal ergue-se um plinto quadrangular.

Em volta deste, surgem duas esculturas com representação da figura humana - dois homens em movimento que simbolizam o esforço de guerra que os portugueses fizeram com a força e o vigor necessários para manter a Pátria erguida com dignidade.

O cimo do plinto culmina com a narrativa escultórica essencial que se materializa com a figura feminina que simboliza a Pátria, com a bandeira da vitória numa mão, enquanto a outra mão coroa o corajoso soldado ajoelhado a seus pés.

Nas outras duas faces do plinto, estão relevos com heráldica nacional.

Virada para a Avenida, este monumento é notável em termos de conceção e de concretização.

O realismo da representação escultórica combina-se com o simbolismo do conjunto e de cada uma das suas partes.

Exprime-se como uma representação clara e apelativa do tema, ao qual o cidadão transeunte não fica indiferente.

Por isso, é uma das obras mais representativas do próprio conceito de arte pública urbana.

Faze da cidade um palco de grandes narrativas de sentido nacional, europeu e mundial.

Tema / Homenageado

Primeira Grande Guerra

Autor

Escultor Maximiano Alves e arquiteto Guilherme Rebelo de Andrade.

Conforme regulamentação urbanística da época, a escala e a implantação do monumento envolveu uma equipa formada por um escultor e por um arquiteto.

Cabia ao primeiro a conceção do monumento na sua especificidade escultórica e ao segundo a definição do enquadramento e implantação da obra.

Maximiano Alves (Lisboa 1888 - Lisboa 1954) pertenceu a uma família com ligação às artes (o seu pai foi gravador-chefe da Casa da Moeda) e formou-se no ambiente artístico da Escola de Belas Artes de Lisboa, onde entrou em 1903.

Teve como principal mestre o escultor Simões de Almeida e concluiu o curso de Escultura em 1911. Tem uma vasta obra de estatuária em espaço público urbano, marcada por grande escala, realismo e monumentalidade, mas, ao mesmo tempo por harmonia, simbolismo e espiritualidade.

Em Lisboa, a sua obra mais relevante é o Monumento aos Mortos da Grande Guerra, mas também é o autor das esculturas em forma de cariátides na Fonte Luminosa, de obras no Palácio de S. Bento/Assembleia da República (bustos de Hintze Ribeiro e de António Cândido no átrio e a alegoria à Diplomacia na Sala das sessões), da escultura do soldado no Mausoléu dos Mortos da Grande Guerra no Cemitério do Alto de S. João, do busto do Marechal Carmona na Câmara Municipal, do Monumento a França Borges (jornalista e escritor) no Jardim do Príncipe Real, do busto de Cesário Verde no Jardim com o mesmo nome na Praça Ilha do Faial e do Busto de D. João da Câmara junto ao Teatro Nacional.

Recebeu diversas encomendas oficiais para o ultramar, no contexto do Estado Novo, sendo autor da Estátua de Afonso de Albuquerque em Goa, dos Monumentos ao Governador Ferreira do Amaral (também uma Estátua Equestre) e a Vicente Nicolau Mesquita em Macau e do busto do Dr. António Lereno (médico) na Praça Luis de Camões na cidade da Praia em Cabo Verde. A nível de encomendas privadas, destaca-se o relevo do teto da capela do altar mor da Basílica de Nossa senhora do Rosário no Santuário de Fátima, representado a Santíssima Trindade com a coroa de Nossa Senhora.

A par da atividade como escultor no seu atelier, no final da carreira foi professor da Escola industrial Marquês de pombal em Lisboa.

Em reconhecimento pelo génio que revelou no Monumento aos mortos da Grande Guerra, foi distinguido com o grau de oficial da Ordem de Cristo.

Guilherme Rebelo de Andrade (Lisboa 1891- Lisboa 1969) - formado na Escola de Belas Artes de Lisboa, desenvolveu intensa atividade com base tanto em encomenda pública como privada.

Formou atelier com o seu irmão Carlos Rebelo de Andrade e muitas das obras são de autoria conjunta. Na sua obra, combina monumentalidade histórica com modernidade técnica.

É um dos representantes do chamado “português suave” que carateriza a “arquitetura do Estado Novo”, bem como da “casa portuguesa”.

Para Lisboa, além da parceria com o escultor Maximiano Alves no Monumento aos Mortos da Grande Guerra, Guilherme Rebelo de Andrade é o autor da monumental Fonte Luminosa da Alameda D. Afonso Henriques (onde chamou a colaborar vários escultores), do Pavilhão do Museu de Arte Antiga (entrada pelo Jardim 9 de abril), da casa na Avenida Columbano Bordalo Pinheiro n.º 52 (que lhe valeu a atribuição do Prémio Valmor em 1939) e da casa no Largo de S. Mamede n.º 4/5. É também obra de sua autoria o edifício do atual Pavilhão Carlos Lopes no Parque Eduardo VII (originalmente concebido e construído como Pavilhão da das Indústrias da representação portuguesa na Exposição do Centenário do Rio de Janeiro no Brasil e mais tarde instalado na capital, no sítio onde hoje se encontra).

No âmbito da numerosa obra saída do atelier dos irmãos Rebelo de Andrade, inserem-se o Pavilhão de Portugal na Exposição Ibero-americana de Sevilha em 1929 (atual sede da Representação Portuguesa nesta cidade), o edifício da Escola Naval do Alfeite, Queluz, a Embaixada de Portugal no Rio de Janeiro (atual Consulado de Portugal), de 1946-62, e os restauros do Palácio Nacional e do Teatro Nacional de D. Maria II.

Foi distinguido como Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e como Comendador da Ordem Militar de Cristo.

Observações / informações complementares

- O simbolismo e atualidade deste monumento mantêm-se vivos. É lugar de evocação regular do tema que lhe deu origem e de temas associados ao heroísmo e esforço militar, através de manifestações de cariz nacional e internacional, incluindo cerimónias públicas com representação de altos dignitários do Estado Português.

- Maximiano Alves foi terceiro classificado no Concurso para o Monumento ao Marquês de Pombal.

Informação do Centro Nacional da Cultura