Pinheiro Chagas

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Voz

Ricardo Castro e Bruna Andrade

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Localização

Avenida da Liberdade – alameda nascente
38° 43' 1.29'' N | 9° 8' 33.02'' W

Tipologia

Conjunto monumental instalado sobre um pedestal e formado pelo busto assente sobre uma pilastra coroada, ladeada por uma figura feminina evocando a morgadinha, figura emblemática de uma das suas obras mais populares – “A Morgadinha de Val-Flor”.

Inauguração

O monumento foi inaugurado a 13 de agosto de 1908.

Encomenda

Subscrição pública lançada em Portugal e no Brasil pelo jornal “Mala da Europa”, que se publicou de 1894 a 1916.

Caraterização e descrição

Monumento em pedra e bronze, de homenagem à figura de Pinheiro Chagas, evocando o homem e destacando a sua faceta de dramaturgo, através da associação entre a representação física do cidadão Pinheiro Chagas e a da Morgadinha, figura por ele criada como heroína da sua obra mais popular (“A Morgadinha de Val-Flor”).

O conjunto é formado por um plinto, do qual emana uma pilastra coroada, onde está implantado o busto que representa a fisionomia do homenageado, com o rosto bem definido, o caraterístico bigode e a farta cabeleira.

Ao lado da pilastra e sensivelmente com a mesma altura, ergue-se a figura da Morgadinha, de corpo inteiro e com traje aristocrata, ricamente trabalhado.

O pedestal ou plinto e a pilastra são executados em pedra. A figuras de Pinheiro Chagas e da Morgadinha, assim como a coroa, são executadas em bronze.

O monumento contem a inscrição que revela que foi executado por subscrição pública, feita em Portugal e no Brasil, pelo jornal “Mala da Europa”. Também em frente do monumento, na calçada, está bem identificado o tema.

Trata-se de uma obra que segue os códigos artísticos do Romantismo e do Naturalismo, com representação figurativa e composição monumental.

A dimensão associada à realidade é simbólica, revelando a relação indissociável entre a figura do homenageado e os atributos a ele associados.

Aqui, a figura de Pinheiro Chagas, associado à coroa que o consagra como herói da Pátria, não se consegue libertar de uma das suas obras, como se criador e criatura estivessem condenados a uma imagem única.

A escala é perfeitamente equilibrada e a execução é de grande rigor e notável qualidade técnico-artística.

Tema / Homenageado

Evocação da figura de Pinheiro Chagas, cuja obra literária teve enorme popularidade, aqui simbolizada por “A Morgadinha de Vale Flor: drama em cinco actos”, que se estreou no Teatro Nacional a 3 de abril de 1869 e se manteve em cena durante muito tempo.

Trata-se de um drama ultrarromântico, centrado na história de um amor impossível entre a fidalga Leonor (a Morgadinha) e o pintor plebeu Luís, cujo enredo se passa no contexto de uma sociedade em mudança, mas onde os limites tradicionais entre grupos sociais estavam ainda bem definidos, situando o confronto entre a nobreza e o povo, entre o mundo aristocrata e o mundo rural. O enredo termina com a trágica morte de Luís.

Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (Lisboa, Freguesia de Santa Isabel, 13 de novembro de 1842 – Lisboa, Freguesia do Coração de Jesus, 8 de abril de 1895) - político, escritor, jornalista, dramaturgo, professor, tradutor.

Perfilhou os ideais do Liberalismo oitocentista que lhe foram transmitidos pelo pai e pela formação na Escola do Exército e na Escola Politécnica de Lisboa. Prosseguiu a carreira militar, chegando ao posto de capitão, até se dedicar à política.

Conhecido com um orador de mérito, foi deputado do Partido Regenerador em diversas legislaturas (em 1871, 1874 e 1878 pelo círculo da Covilhã; em 1880 e 1881 pelo círculo de Arganil; em 1884 pelo círculo das Caldas da Rainha; em 1887, 1889 e 1890 por Viana do Castelo).

Foi ministro da Marinha e Ultramar, de 1883 a 1886, um período marcado pelas questões internacionais relacionadas com partilha dos territórios africanos pelas potências europeias, que se traduziram no Mapa Cor de Rosa.

Foi um dos fundadores da Sociedade de Geografia em 1892, ano em que também foi nomeado Par do Reino vitalício. Em 1893 foi designado Presidente da Junta de Crédito Público.

Mas foi como jornalista e escritor que Pinheiro Chagas se tornou mais conhecido.

Iniciou-se como folhetinista e crítico em periódicos, como “O Monitor”, “A Gazeta da Portugal”, a “Revista da Semana” e a “Revolução de Setembro”. Colaborou em diversos jornais e revistas, com destaque para: “Jornal do Comércio”, “O Panorama”, “Arquivo Pitoresco, “Revista Contemporânea de Portugal e Brasil”, “A Ilustração Portuguesa” e “O Ocidente”. Foi diretor literário do “Jornal de Domingo” e diretor político do jornal “A Discussão”, cujo título mudou para “Diário da Manhã”.

Esteve ligado a polémicas de índole literária, tomando posição contra as célebres Conferências do Casino, lançadas por Eça de Queiroz e Alexandre Herculano em 1871, expressando bem o confronto entre o romantismo que perfilhava e o realismo que se começava a afirmar.

O confronto estre estas duas posições ficou bem expresso ao longo da vida, nas acesas polémicas que teve com Eça de Queiroz.

Como escritor, o seu talento era reconhecido pelos pares e pelos numerosos leitores.

Teve reconhecimento e sucesso no seu tempo. Estreou-se em 1863 com a publicação da obra poética “Anjo do Lar”, seguida de “Poema da Mocidade”, em 1866.

Autor de uma “História de Portugal” em 8 volumes, de uma “História Alegre de Portugal e de várias obras de ensaística e de crítica, foi no domínio da ficção que mais publicou, com temáticas muito diversas, como “Tristezas â Beira Mar”, “Novelas Históricas”, “A Conspiração de Pernambuco”, “O Terramoto de Lisboa”, “A Máscara Vermelha”, “Mantilha de Beatriz”, “A Descoberta da Índia contada por um marinheiro”.

Como dramaturgo, atingiu grande popularidade com “A Morgadinha de Valflor”, drama em cinco atos representado em 1868 no Teatro Nacional. Publicada em 1869 na Tipografia da Viúva Moré no Porto, a obra foi editada também no mesmo ano no Rio de Janeiro pela Livraria de A. Da Cruz Coutinho e, mais tarde, traduzida em espanhol e em italiano.

Dominava a língua francesa e traduziu obras de escritores seus contemporâneos, nomeadamente “Regina” de Lamartine e “A Descoberta da Terra” e “Os Exploradores do século XIX” de Júlio Verne.

Em parceria com Gomes Leal, traduziu “A Dama das Camélias” de Alexandre Dumas Filho.

Foi Secretário-Geral da Academia das Ciências, vogal do Conselho Superior de Instrução Pública e Presidente da Junta de Crédito Público.

Foi distinguido com condecorações internacionais, nomeadamente a Ordem de Carlos III de Espanha, a Ordem de Leopoldo da Bélgica e a Ordem Nacional da Legião de Honra de França.

Autor

Escultor António Augusto da Costa Mota, tio (Coimbra 12 de fevereiro de 1862 – Lisboa 26 de março de 1930).

A designação Costa Mota, tio, distingue-o de outro escultor notável, seu sobrinho e por isso conhecido como Costa Mota sobrinho.

Trata-se de um escultor de referência no seu tempo, formado na Escola de Belas Artes de lisboa, onde veio a ser professor.

Também concebeu outros monumentos para Lisboa: o Túmulo de Luis de Camões no Mosteiro dos Jerónimos, o Monumento a Afonso de Albuquerque em Belém, o Monumento a Sousa Martins no Campo dos Mártires da Pátria, a estátua da Maria da Fonte no Jardim de Campo de Ourique, o Monumento a Eduardo Coelho no Miradouro de S. Pedro de Alcântara e a Estátua do Poeta António Ribeiro Chiado no Largo do Chiado.

A sua obra oscila entre Romantismo com elementos revivalistas e historicistas e Naturalismo.

Observações / informações complementares

A 7 de fevereiro de 1888, à saída do Parlamento, Pinheiro Chagas foi atacado violentamente por um anarquista, devido às críticas que fizera no jornal “O Repórter” a Louise Michel (1830-1905), poetisa, professora e enfermeira, heroína da Comuna de Paris em 1871.

Este episódio acabou por afetar gravemente a sua saúde.

O historiador Oliveira Martins saiu então em sua defesa, alegando liberdade de pensamento e de opinião.

Quando Pinheiro Chagas escreveu “A Morgadinha de Val-Flor”, destinou a figura central da Morgadinha, à célebre atriz Emília Adelaide (1836-1905), que se estrara no Teatro Nacional em 1856.

A peça notabilizou-se e foi depois representada por companhias profissionais e por companhias de teatro amador.

Conforme registo do óbito, o Conselheiro Pinheiro Chagas faleceu na Freguesia do Coração de Jesus, na Rua do Salitre 178, 2.º andar (que pertence à atual freguesia de Santo António), pelas quatro horas da tarde, vítima de ataque cardíaco. Está sepultado em jazigo no Cemitério dos Prazeres em Lisboa.

Informação do Centro Nacional da Cultura