Oliveira Martins

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Voz

Luís Lourenço

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Localização

Avenida da Liberdade (talhões ajardinados do lado nascente, junto ao cruzamento com a Rua Alexandre Herculano)

Tipologia

Estatuária monumental

Inauguração

27 de maio de 1952 (presidência de Álvaro Salvação Barreto)

Encomenda

Grupo de amigos do escritor e Câmara Municipal de Lisboa

Caraterização e descrição

O monumento representa a figura do homenageado em pose frontal, com traje corrente, papillon e amplo casaco sobreposto, procurando fidelidade à fisionomia e às vestes que o escritor usava, tal como foi registado no seu tempo em diversas imagens, incluindo um desenho/caricatura da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro, publicado no Álbum das Glórias (n.º 20 setembro de 1881).

Nesta representação escultórica, encontra-se associado a outros vultos relevantes do seu tempo, cujos monumentos estão implantados em espaço público com grande proximidade: António Feliciano de Castilho, Almeida Garrett e Alexandre Herculano.

Trata-se de uma escultura em pedra, de grande escala, implantada sobre plinto circular, também em pedra. A conceção revela domínio da composição em grande escala, tal como mestria de representação.

O tratamento da luz nas superfícies, a postura do corpo e a modelação das vestes introduzem movimento.

A obra, feita em gesso por Leopoldo de Almeida e aprovada pela Câmara Municipal de Lisboa, foi passada a pedra por José Henriques dos Santos Torres Júnior, conforme contrato para a execução dos estudos, assinado em 21 de outubro de 1948.

Tema / Homenageado

Oliveira Martins (n. Lisboa 30 de Abril de 1845 – f. Lisboa 24 de agosto de 1894) escritor, historiador, político, jornalista.

O monumento homenageia o cidadão que se afirmou no campo das letras e se destacou pela frontalidade de opiniões.

Joaquim Pedro de Oliveira Martins foi um lisboeta, nascido na Travessa do Pombal (atual Rua da Imprensa Nacional).

Nesta cidade viveu grande parte da sua vida e aqui veio a falecer.

Encontra-se sepultado no cemitério dos prazeres, no monumento funerário concebido pelo arquiteto José Teixeira Lopes, onde se destaca a figura alegórica intitulada A História, da autoria do escultor António Teixeira Lopes.

A experiência da vida deu-lhe a consciência da importância do trabalho. Apesar da sólida formação cultural no contexto familiar, a morte do pai obrigou-o a abandonar os estudos liceais e a trabalhar, desde muito jovem.

Depois de dirigir a Mina de Santa Eufémia em Córdova, Espanha, regressou a Portugal e fixou-se temporariamente no Porto, com residência na Casa das Águas Férreas, situada na rua com o mesmo nome, onde reunia tertúlias e intelectuais sintonizados com o espírito da Geração de 70.

Dirigiu o Caminho de Ferro do Porto à Póvoa e a Famalicão, a Sociedade de Geografia Comercial do Porto e o célebre Museu Industrial e Comercial do Porto. De regresso a Lisboa, foi administrador da Companhia dos Tabacos e da Companhia de Moçambique.

Entrou na política em 1883 como deputado eleito pelo círculo do Porto e, mais tarde, por Viana do Castelo.

Em 1892 foi nomeado Ministro da Fazenda, mantendo-se no cargo durante alguns meses.

Colaborou em revistas, tanto literárias como científicas (Revista Científica, Revista de Portugal, Revista de Educação e Ensino, Revista Ocidental, Ocidente, Dois Mundos, Revista de Estudos Livres, Gazeta dos Caminhos de Ferro, A Semana de Lisboa, A Leitura) e também em jornais (Jornal do Comércio, O Repórter, A Província, O Tempo, A República, A Revolução de Setembro).

Também se destacou como correspondente de jornais brasileiros, nomeadamente do jornal Gazeta de Notícias editado no Rio de Janeiro.

Foi distinguido por instituições de referência, nomeadamente a Academia das Ciências, instituição da qual se tornou membro.

Foi membro do Instituto de Coimbra e sócio correspondente da Academia de Espanha.
Mas a investigação e a profunda reflexão sobre a história foram a matéria do seu pensamento e da sua escrita. Era designado “o filósofo”, nome pelo qual os amigos o referiam (Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro e Antero de Quental). Profundamente conhecedor dos sistemas de pensamento e das correntes filosóficas e políticas, procurou estruturar soluções para o seu tempo e, em particular, para Portugal. Em diferentes momentos e por razões que apresentou com argumentação sólida, foi monárquico, socialista e republicano.

Tornou-se um defensor convicto do iberismo.

Principais obras de J. O. Oliveira Martins (publicações autónomas, editadas em vida do autor)

Febo Moniz, 1867

Os Lusíadas - Ensaio sobre Camões, em Relação à Sociedade Portuguesa e ao Movimento da Renascença, 1872

A Teoria do Socialismo - Evolução Política e Económica das Sociedades da Europa, 1872)

História da Civilização Ibérica, 1879

História de Portugal, 1879

O Brasil e as Colónias Portuguesas, 1880

Elementos de Antropologia, 1880

Portugal contemporâneo, 1881

Sistema dos Mitos Religiosos, 1882

Regime das Riquezas, 1883

Tábua de Cronologia, 1884

Historia da Republica Romana, Política e Economia Nacional, 1885

Portugal nos Mares: Ensaio de Crítica, História e Geografia, 1889

Os Filhos de D. João I, 1891

A vida de Nun’Alvares, 1893

Autor

Leopoldo de Almeida (n. Lisboa 18 de outubro de 1898 – f. Lisboa 28 de abril de 1975) – escultor e professor

Leopoldo Neves de Almeida fez os primeiros estudos na Escola Oficina n. º1, uma instituição inovadora, criada em 1905 no bairro da Graça em Lisboa e muito de dicada ao ensino das artes.

Com apenas 15 anos, entrou para a Escola de Belas Artes de Lisboa, onde foi aluno de Simões de Almeida - sobrinho e de Columbano Bordalo Pinheiro e se revelou um aluno brilhante.

Em 1920, terminou o curso de Escultura com a classificação máxima. Desde muito novo, apresentou-se nas Exposições da Sociedade de Belas Artes.

Na primeira fase, as suas obras seguem o modelo da escultura clássica, como é o caso da escultura O Vencido da Vida (1922).

Aceitou novos desafios e concebeu o baixo relevo do friso da boca do Teatro da Trindade, assim como as decorações escultóricas do célebre Bristol Clube.

Em 1926, foi um dos vencedores do concurso para Pensionista do Estado no Estrangeiro.

Em Paris, onde residiu durante alguns meses, visitou monumentos e museus.

Mas foi em Roma, onde se instalou no Instituto de Santo António dos Portugueses e onde expôs, que a obra do escultor teve novo impulso.

Regressado a Portugal, participou nos grandes concursos públicos para monumentos urbanos.

Foi a colaboração no atelier do escultor Francisco Santos, em particular no Monumento ao Marquês de Pombal, que revelou as suas qualidades na composição de figuras e grandes grupos escultóricos.

A realização dos baixos-relevos executados em 1934 para a fachada do cinema Éden, projetada pelo arquiteto Cassiano Branco, consagraram-no como escultor moderno, já com atelier próprio.

Leopoldo Almeida tem uma obra diversificada e inserida em diversos contextos.

É relevante a estatuária em espaço urbano resultante de encomenda pública.

Grande parte da sua obra concentra-se em Lisboa, onde para além das estatuária na Avenida da Liberdade (Oliveira Martins e António Feliciano de Castilho), se destaca o Monumento a António José de Almeida, as esculturas do Padrão dos Descobrimentos, estátua equestre de D. João I na Praça da Figueira, Monumento a Calouste Gulbenkian nos Jardins da Fundação Gulbenkian, estátuas de D. Afonso Henriques e de D. João I (concebidas para os Paços do Concelho, mas atualmente inseridas no Jardim do Campo Grande) e de Óscar Carmona (atualmente no Museu da Cidade).

Relevante é também a composição alegórica alusiva à Justiça, no exterior do Palácio da Justiça.

Versátil na composição e na modelação, concebeu obras mais intimistas como alguma escultura religiosa inserida na Igreja de Fátima.

O Museu de Lisboa possui na sua coleção um notável conjunto de obras, gessos e modelos em gesso, da autoria do escultor.

Também está representado noutras cidades e vilas, nomeadamente com monumentos evocativos de vultos da história política (D. Nuno Álvares Pereira na Batalha, D. Sancho I em Silves, Duarte Pacheco em Loulé, Infante D. Henrique em Lagos) e de figuras da vida cultural (Ramalho Ortigão no Jardim da Cordoaria no Porto, Eça de Queiroz na Póvoa do Varzim, Ramalho Ortigão nas Caldas da Rainha e Marcelino Mesquita no Cartaxo).

Embora predominem obras de estatuária relacionadas com figuras históricas, também concebeu alegorias, como a que se refere à Justiça nos Palácios da Justiça de Lisboa e do Porto.

Dedicou-se simultaneamente ao ensino como Professor da Escola de Belas Artes de Lisboa, formando muitos jovens escultores.

Em reconhecimento da sua ação, foram-lhe atribuídas distinções públicas relevantes, como a Ordem Militar de Santiago da Espada e a Ordem da Instrução Públicas. Nas Caldas da Rainha, localiza-se o Museu Leopoldo de Almeida, dedicado à vida e obra do escultor.

Observações / informações complementares

A iconografia de Oliveira Martins inclui o retrato pintado por Columbano Pinheiro em 1891, que faz parte da Coleção do Museu do Chiado / Museu Nacional de Arte Contemporânea.

Informação do Centro Nacional da Cultura