Alfredo Keil

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Voz

Nilton

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Localização

Jardim Alfredo Keil, Praça da Alegria

Tipologia

Busto sobre plinto 

Inauguração

3 de julho de 1957 (Presidência Álvaro Salvação Barreto), por ocasião dos 100 anos do nascimento de Alfredo Keil. 

Encomenda

Câmara Municipal de Lisboa (deliberação Camarária de 24 de maio de 1922, publicada em edital do Governo Civil de 8 de junho de 1925). 

Caraterização e descrição

evocação figurativa, sob a forma de busto em bronze, assente sobre plinto em pedra, com inscrição alusiva ao homenageado, referindo a cronologia e as áreas artísticas em que mais se notabilizou.

Integra-se no jardim com o seu nome. Sobre o tronco simples, sem roupagem, ergue-se o rosto de Alfredo Keil, em posição erguida e respeitando a fisionomia, numa postura desafiante que bem o carateriza como génio criador romântico. 

Tema / Homenageado

Alfredo Keil (Lisboa 3 de julho de 1850 – Hamburgo, Alemanha 4 de outubro de 1907) – compositor, pintor, escritor, autor da música “A Portuguesa” (1890) que veio a ser adotada pela República em 1911 como como Hino Nacional de Portugal. 

Alfredo Cristiano Keil era filho de Christian Keil (filho de João Jorge Keil e de Isabel Stiffler) e de Maria Josefina Stellpflug (filha de Mathias Stellpflug e de Bárbara Stellpflug).

O pai era natural de Hannover na Alemanha, membro de uma família alemã residente em Portugal e proprietário da alfaiataria que fornecia a corte.

A mãe era lisboeta e pertencia a uma próspera família de comerciantes de ascendência alsaciana, estabelecidos na capital.

Os pais de Alfredo Keil, moradores na freguesia de S. Julião, casaram em Lisboa, a 30 de agosto de 1845, na Igreja de S. Luís da Nação Francesa, com dispensa de impedimento de disparidade de culto (ele era protestante e ela católica), comprometendo-se o nubente a batizar e a educar os filhos na religião católica.

Deste casamento nasceu em 1850 Alfredo Keil que construiu a sua vida familiar e a sua teia de amizades no meio artístico, desde o primeiro casamento, a 17 de janeiro de 1876, com Cleyde Maria Margarida Cinatti (filha do célebre pintor, arquiteto e cenógrafo italiano Giuseppe Luigi Cinatti) até ao segundo casamento com Margherita Rivolto (filha do violinista Giacomo Rivolta, notável fabricante italiano de instrumentos musicais e fundador da Casa Ricordi). 

Desde cedo, Alfred Keil teve uma formação artística qualificada, que lhe deu as bases para revelar a sua vocação no domínio das artes, com destaque para pintura, música e fotografia.

Depois de estudar em Portugal, viajou na companhia do pai, conhecendo o meio artístico das principais cidades da Europa, sobretudo a nível da pintura e da música.

Em Portugal, foi aluno da Real Academia de Belas Artes de Lisboa, onde os mestres Joaquim Prieto e de Miguel Lupi o marcaram.

Ao mesmo tempo, estudou com os professores de música António Soares e Ernesto Vieira. Em Nuremberga, na Alemanha, estudou música e frequentou a Escola de Artes de Nuremberga, dirigida pelo pintor August von Kreling. Assim, sedimentou as suas opções, baseadas na experiência e na vivência do Romantismo triunfante e do Naturalismo emergente, estética que abraçou nas diversas áreas em que se exprimiu. 

Cedo revelou as suas capacidades no campo da Música e aos 12 anos escreveu uma peça musical dedicada à mãe.

Foi no Teatro da Trindade em Lisboa que apresentou em 1883 a sua primeira ópera, intitulada Susana, prenunciando uma intensa atividade e grande sucesso.

No entanto, foi em 1902 com A Serrana, uma ópera cantada em português (música de Al. Keil e letra de H. Lopes de Mendonça) que apresentou primeiro no Teatro de S. João no Porto e depois no Teatro da Trindade em Lisboa que se consagrou.

A veia criativa e a originalidade de Alfredo Keil exprimiram-se nas diversas tipologias da composição musical que configuram uma vastíssima obra num tempo de vida curto.

Mas, foi a consagração de A Portuguesa, com letra de Lopes de Mendonça, que perpetuou o seu nome. Esta obra, composta no contexto do ultimato inglês, veio a tornar-se o Hino Nacional já depois da morte de Keil. 

Em simultâneo, Pintura e Desenho foram áreas de expressão artística, revelando-o sobretudo como um pintor de paisagens naturais e urbanas.

Apresentou-se nas Exposições da Sociedade de Belas Artes e nas Exposições Internacionais de Paris, do Rio de Janeiro e de Madrid.

O seu atelier na Avenida da Liberdade (n.º 77, 3.º andar) foi local de produção e de exposição. 

Ferreira do Zêzere, onde se alojava na Estalagem dos Vales foi o local que escolheu para, com o seu grupo de amigos, pintar ao ar livre as extraordinárias paisagens 

A Fotografia atraiu-o e revelou-se um grande registador de imagens.

Foi amigo do grande fotógrafo Carlos Relvas e acompanhou os progressos desta nova técnica que sempre encarou como arte. 

Foi também um grande colecionador de instrumentos musicais, muitos dos quais se encontram no Museu da Música. 

Em reconhecimento da sua ação, foi distinguido com a Ordem de Cristo, Ordem de Santiago. A Espanha atribui-lhe a Ordem de Carlos III. 

Autor

António Teixeira Lopes (Vila Nova de Gaia 27 de outubro de 1866 – S. Mamede de Ribatua, Alijó 21 de julho de 1942) - escultor e professor de escultura. 

Filho do ceramista e escultor José Joaquim Teixeira Lopes, que o introduziu no meio artístico portuense, começou, desde cedo, a colaborar no atelier do pai, ao mesmo tempo que trabalhou na célebre Fábrica de Cerâmica das Devesas.

De 1882 a 1884, estudou na Academia de Belas Artes do Porto, onde foi aluno do escultor Soares dos Reis e do pintor Marques de Oliveira.

Em 1886, seguiu para França, com o apoio de uma bolsa privada e foi admitido na Escola de Belas Artes de Paris, como aluno de Escultura.

Mas, grande parte da sua aprendizagem passou pela visita aos museus e às exposições de arte.

Destacou-se com a participação nas exposições do Salon parisiense com obras de escultura, como “Retrato de criança” (1887), “Ofélia e o botão de Rosa” (1888), “Caim” (menção honrosa, 1889), “Viúva” (medalha de ouro, 1890), “Criança napolitana” (1891), “Condessa de Valenças” e “Madame Michon” (1893).

Ao longo da vida, manteve a participação em exposições internacionais, com destaque para a Exposição Universal de Paris (1900), onde obteve o Grande Prémio., a Exposição Internacional de San Francisco (1905) e a Exposição do Rio de Janeiro (1908). 

De regresso a Portugal, trouxe uma sólida formação e uma experiência artística que o marcaram com um dos escultores com maior destaque a nível da crítica de arte e da encomenda.

Soares dos Reis e Rodin foram as referências inspiradoras. Trabalhou intensamente no seu atelier em Vila Nova de Gaia, projetado pelo irmão (arquiteto José Teixeira Lopes), onde se instalou em 1898. Poucos anos antes de falecer, doou a casa, o espaço de trabalho, a coleção de arte e todo o espólio do atelier à Câmara Municipal de Gaia, que constitui hoje e Casa-Museu Teixeira Lopes, onde se preserva e expõe grande parte da sua obra e de representativos pintores e escultores do seu tempo. Desde 1901, desempenhou funções de Professor de Escultura na Escola de Belas Artes do Porto, formando gerações de jovens artistas.

No seu testamento, consagrou uma verba para atribuir ao melhor aluno de Escultura desta escola. 

A sua vasta obra encontra-se em museus e coleções, mas também em espaços urbanos.

A Casa Museu Teixeira Lopes (Vila Nova de Gaia) apresenta o percurso e a obra do escultor. Em Lisboa, para além das esculturas mais emblemáticas que se encontram no Museu do Chiado e do busto de Alfredo Keil na Praça da Alegria, são relevantes: figuras alegóricas e estátua do Rei D. Carlos na Câmara dos Deputados da Assembleia da República; alegoria alusiva à História no monumento fúnebre a Oliveira Martins no Cemitério dos Prazeres; Busto do Visconde de Valmor no Largo da Academia de Belas Artes, Busto de Augusto Rosa no Jardim Augusto Rosa no Largo da Sé; Monumento a Eça de Queiroz no Largo Barão de Quintela. Para o Brasil, concebeu as monumentais portas de bronze da Igreja da Candelária no Rio de Janeiro e o monumento a Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul (Praça Tamarandé).

Teixeira Lopes é também o autor de uma escultura representativa da Virgem de Fátima, concebida em 1920 para o Santuário de Fátima (Capelinha das Aparições) e que foi preterida face à escultura de José Telhim que se consagrou como representação oficial. 

Em reconhecimento da sua ação, foi-lhe atribuída a Grã-Cruz de Santiago de Espada e o grau de Cavaleiro da Legião de Honra de França. 

Observações / informações complementares

O monumento a Alfredo Keil enquadra-se, coerentemente, num pequeno jardim romântico com o nome do compositor, instalado em 1882 na Praça da Alegria, onde chegou a funcionar a Feira da Ladra.

Algumas das espécies arbóreas do jardim estão classificadas. 

Na infância e na juventude, Alfredo Keil viveu nesta zona da cidade (zona do Salitre), próximo do local onde se encontra hoje o seu busto.

O seu atelier de pintura também se localizava próximo, na Avenida da Liberdade (n. 77, 3.º andar). 

Alfredo Keil, republicano e maçon (membro da Loja Gomes Freire do Grande Oriente Lusitano, onde tinha o nome do compositor alemão Mayerbeer), faleceu 3 anos antes da implantação da República. 

Em 1957, por ocasião das comemorações dos 100 anos do nascimento de Alfredo Keil, a Câmara Municipal de Lisboa, para além do busto, realizou uma grande Exposição sobre Augusto Keil e a sua obra, no Palácio das Galveias. 

Informação do Centro Nacional da Cultura