Camilo Castelo Branco
Voz
Carlos Cunha
Localização
Rua Camilo Castelo Branco, no jardim com o nome do escritor, junto ao cruzamento com a Avenida Duque de Loulé.
Tipologia
Estatuária monumental
Inauguração
25 de outubro de 1950 (Presidência Alvaro Salvação Barreto e Vice-Presidência Luís Pastor de Macedo), no âmbito das Comemorações da Tomada de Lisboa aos Mouros.
Encomenda
Câmara Municipal de Lisboa
Caraterização e descrição
Conjunto formado pela estátua e em mármore, implantada sobre plinto em pedra, que se ergue no ambiente do jardim.
O escritor é representado com rigor anatómico (vasta cabeleira e farto bigode).
Em pose frontal e coberto por uma ampla capa, tem uma postura elegante e determinada, à altura da sua veia criativa.
O tratamento das vestes exprime simultaneamente equilíbrio e movimento.
Depois de aprovada a maquete em gesso, o contrato de empreitada para execução em pedra da estátua de Camilo Castelo Branco, pelo modelo da autoria do escultor António Duarte, foi assinado pela Câmara Municipal com a empresa de Pardal Monteiro a 9 de agosto de 1949.
Tema / Homenageado
Camilo Castelo Branco (Lisboa 16 de março de 1825 – f. S. Miguel de Seide, Famalicão 1 de junho de 1890) escritor associado à estética do Romantismo
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco é um lisboeta por nascimento.
Nasceu na Rua da Rosa no Bairro Alto e morou na cidade em diversas ocasiões.
Ficou órfão muito cedo, o que marcou o seu destino.
Foi então viver com a família paterna em Vila Real, mas a sua vida carateriza-se por uma grande errância (Trás os Montes, Beira Alta, Minho) e por grandes paixões que geraram instabilidade amorosa.
Foi marcante a relação passional com Ana Plácido que deu origem à acusação de adultério e à prisão de ambos na Cadeia da Relação do Porto, onde chegou a receber a visita do rei D. Pedro V. Vila do Conde e Póvoa do Varzim (onde faleceu na sua Casa de S. Miguel de Seide) foram locais de residência.
Encontra-se sepultado no Cemitério da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa no Porto (jazigo de Freitas Fortuna).
Em 1843, saiu de Vila Real, onde deixou a família que, entretanto, constituíra e inscreveu-se no Curso de Medicina da Academia Politécnica do Porto.
Mas, tertúlias e vida boémia interessaram-no mais do que os estudos.
Conheceu o mundo através da sua própria experiência de vida, mas a grande base da sua formação nível literário e cultural foi a leitura dos clássicos.
Como era corrente no seu tempo, publicou e colaborou em revistas e jornais (Archivo Pitoresco, Revista Contemporânea de Portugal e Brasil, A Semana, O Panorama, Gazeta Literária do Porto, Aurora do Lima, A Verdade, o Mundo Elegante. Exerceu, muitas vezes, o ofício de crítico literário e social. Notabilizou-se, sobretudo, como escritor de novelas inspiradas na realidade social que viveu e conheceu.
Autor de uma escrita brilhante e apelativa, a sua obra publicada teve grande sucesso, o que o carateriza como escritor que viveu da sua própria obra. A Queda de um Anjo, Amor de Perdição (que escreveu durante a prisão na Cadeia da Relação do Porto), A Corja ou Eugénio Macário e muitos outros livros, foram sucessivamente reeditados. Como dramaturgo, notabilizou-se com O Morgado de Fafe em Lisboa, que lhe valeu grande sucesso na capital do país.
Foi também em Lisboa que escreveu o seu primeiro romance (Anátema), publicado inicialmente em fascículos num jornal literário.
Tornou-se membro da academia das Ciências, sob proposta de Alexandre Herculano.
Em reconhecimento do seu valor, o rei D. Luís concedeu-lhe o título de Visconde de Correia Botelho.
Também foi agraciado com a Comenda de Carlos III de Espanha.
A casa dedicada a Camilo Castelo Branco na quinta de S. Miguel de Seide, onde viveu, escreveu e decidiu por termo à vida, é uma Casa-Museu, lugar de memória do homem, do escritor e da obra.
Em sua homenagem, a Câmara Municipal de Famalicão, em parceria com a Associação Portuguesa de Escritores, instituiu o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, atribuído a escritores portugueses e dos países de língua oficial portuguesa.
Obras Camilo Castelo Branco publicadas em vida do autor
Anátema, 1851
Mistérios de Lisboa, 1854
A Filha do Arcediago, 1854
Livro negro do Padre Dinis, 1855
A Neta do Arcediago, 1856
Onde Está a Felicidade?, 1856
Um Homem de Brios, 1856
O Sarcófago de Inês, 1856
Lágrimas Abençoadas, 1857
Cenas da Foz, 1857
Carlota Ângela, 1858
Vingança, 1858
O Que Fazem Mulheres, 1858
O Morgado de Fafe em Lisboa, Teatro, 1861
Doze Casamentos Felizes, 1861
O Romance de um Homem Rico, 1861
As Três Irmãs, 1862
Amor de Perdição, 1862
Memórias do Carcere, 1862
Coisas Espantosas, 1862
Coração, Cabeça e Estômago, 1862
Estrelas Funestas, 1862
Cenas Contemporâneas, 1862
Estrelas Propícias, 1863
Memórias de Guilherme do Amaral, 1863
Agulha em Palheiro, 1863
Noites de Lamego, 1863
Anos de Prosa, 1863
Amor de Salvação, 1864
A Filha do Doutor Negro, 1864
Vinte Horas de Liteira, 1864
Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado, 1863
O Bem e o Mal, 1863
O Esqueleto, 1865
A Sereia, 1865
A Enjeitada, 1866
O Judeu, 1866
O Olho de Vidro, 1866
A Queda dum Anjo, 1866
O Santo da Montanha, 1866
A Bruxa do Monte Córdova, 1867
A doida do Candal, 1867
O Senhor do Paço de Ninães, 1867
Os Mistérios de Fafe, 1868
Maria da Fonte, 1885
Vulcões de Lama, 1886
O Retrato de Ricardina, 1868
Os Brilhantes do Brasileiro1869
A Mulher Fatal, 1870
Livro de Consolação, 1872
A Infanta Capelista, 1872
A Freira no Subterrâneo, 1872
A Filha do Regicida, 1875
Eusébio Macário, 1879
A Corja, 1880
A Brasileira de Prazins, 1882
Autor
António Duarte (n. Caldas da Rainha 31 de janeiro 1912 - f. Lisboa 2 de março de 1998) – escultor e professor das Belas Artes
António Duarte Silva Santos frequentou a Escola de Belas Artes de Lisboa, onde foi discípulo de Simões de Almeida-sobrinho e obteve o diploma do Curso de Escultura. Participou nas exposições da Sociedade Nacional de Belas Artes, nos Salões de Arte Moderna, na Exposição do Mundo Português, nas Exposições de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian e na Bienal de Veneza.
Pode caraterizar-se como um escultor modernista que se adaptou bem à estética da arte pública do período do Estado Novo.
Foi, sobretudo, um retratista exímio, tanto na forma de bustos de personalidades do seu tempo, como na estatuária monumental.
É autor de uma vasta obra, espalhada pelo território que, no seu tempo, se inscrevia no espaço geocultural português, com destaque para a Virgem dos Pastores na Serra da Estrela, o Monumento a Diogo Cão em Luanda, a Estátua do Rei D. Pedro I em Cascais e a estátua do Rei D. Afonso III em Faro.
Para Lisboa, além do Monumento a Camilo Castelo Branco, concebeu o monumento a Santo António na Praça de Alvalade, o Grupos de Cavalos Marinhos na Praça do Império e o Nu Feminino que se encontra nos Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian.
Recebeu prémios e tem obra em museus nacionais. O Museu António Duarte, nas Caldas da Rainha, tem por base o legado do escultor.
Em reconhecimento da sua ação, foi distinguido com a Ordem Militar de Santiago da Espada.
Observações / informações complementares
Antes da decisão final sobre a escolha do local de colocação da obra na Avenida Castelo Branco, a Câmara Municipal ponderou outros locais para um monumento de homenagem ao escritor, como o Campo dos Mártires da Pátria e o Parque Eduardo VII. Durante a República, chegou a ser colocada a primeira pedra no Parque Eduardo VII. Inicialmente, existiu uma Comissão que encomendou o monumento ao escultor Anjos Teixeira, mas a Câmara Municipal desvinculou-se dessa solução e fez a encomenda a António Duarte.